Fábrica à Mostra

Projetos artísticos da Fábrica da Rua da Alegria


24 de Janeiro a 2 de Fevereiro 2014 

Teatro Helena Sá e Costa – Café Concerto da ESMAE – Fábrica da Rua da Alegria


Um teatro de uma escola, um teatro de escola, e que quer fazer escola, no sentido de a ajudar a produzir e a construir-se perante um público, quer colaborar com uma Fábrica, que foi colocada à disposição de ex-alunos dessa mesma escola. Uma Fábrica vizinha, porque eles não tinham espaços para trabalhar, cujo edifício é da escola e que funciona como polo de criação e produção de conteúdos e serviços artísticos nas mais diversas áreas. Uma escola de Teatro, Música e Artes da Imagem e uma Fábrica de Sonhos, saberes e artes múltiplas. Todas em confronto, todas à mistura. Convívios naturais, convívios ocasionais, convívios voluntários, ou convívios forçados. Partilha de saberes, partilha de recursos, partilha de estratégias e táticas de implantação. Filtragem do que melhor se faz numa geração sem salas. Mas com salas afinal, posto que a escola que lhes deu origem, no sentido em que formou os indivíduos, foi sua trave mestra e alicerça e ampara agora essa capacidade produtiva, para não a deixar cair. Tudo isto numa cidade que é só a segunda maior do país e que tem várias escolas de Teatro, Música, Fotografia e Cinema, mas nenhuma deste tamanho nem com esta ambição de ser um todo que mistura todas as artes em todos os saberes para criar o novo, criar de novo o velho e dar futuros a jovens artistas.
Bem, e para que serve uma Escola? E para que serve uma Fábrica?
Em tempos de discursos acerca de indústrias culturais, de clusters de indústrias criativas, não será esta fábrica afinal o maior desafio que se coloca a este nível, nesta cidade, de antigas indústrias e de ideias criativas? Com toda a informalidade (des)necessária, uma dezena de projetos habitam um espaço comum. Há um condomínio flexível, há vivências e histórias de uma aventura que já se faz com 7 anos. Neste redemoinho de referências, há muitas estórias para contar. Há caminhos a traçar para um futuro que não se avizinha fácil, mas que só o será se for de continuidade, de resistência às dificuldades e intempéries de uma crise que aperta e estrangula grande parte do tecido cultural. Como sobreviver neste contexto? Que relação com a escola e com os seus espaços é possível estabelecer? E qual o papel de um Teatro como o Helena Sá e Costa neste contexto? Vizinhança, coprodução, cumplicidade. Acrescentar desafios aos desafios, acrescentar reflexão ao pensamento. Procurar soluções de viabilidade mútua. E qual a relação desta Fábrica, no contexto de um polo criativo maior, como é o caso da cidade, e dos seus espaços comunais e públicos? E já agora com o comércio local, as escolas envolventes, os novos moradores da baixa - que se quer habitada - quando requalificada? E requalificar, não é requalificar tudo junto, numa visão global que a todos favoreça? É essa a ideia da Europa tripeira que temos para a cidade e sua cultura. Por onde temos de passar para dar continuidade a este caminho tantas vezes sinuoso e quase interrompido? Mas somos como as plantas que brotam por baixo da calçada pedras. Porque por baixo das pedras da calçada há sempre a praia.
Luísa Moreira